No dia em que a atracção for uma ciência exacta, com
preceitos e regras, no dia em que um abraço tiver um modo e um tempo para
ser dado, no dia em que não a abraçarmos no preciso instante em que intuímos
que não há como não abraçá-lo, no dia em que ele se revelar, como numa
epifania, a pessoa da nossa vida e nós fizermos de conta que
ainda não é chegado o tempo para uma pessoa da nossa vida, no dia em
que fizermos contas para perceber se é a altura certa para beijá-lo, no dia em
que ele nos olhar nos olhos e nós ficarmos espantadas durante tanto tempo
que ele entretanto desapareceu, nesse dia em que sejam os decotes e
os olhares fatais e o guarda-roupa e os olhos azuis e os cabelos louros a
determinar as nossas escolhas, nesse dia, Tio Pipoco,
mereceremos estatelar-nos com estrondo e será justo que ninguém nos
levante.
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Inspirado e adaptado do “Tio Pipoco”